1º Encontro Internacional sobre Saúde Mental e as Reações Psicológicas e Neurológicas à Covid-19!

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 Bom dia e bem-vindos ao 1º Encontro Internacional sobre Saúde Mental e as Reações Psicológicas e Neurológicas à Covid-19!

 

Minha história com a psicologia das pandemias é anterior ao surgimento da pandemia da Covid-19 que ora assola o mundo e, em particular, o nosso gigante Brasil. Em 2018, interessei-me em investigar os efeitos de algumas doenças infecciosas, tais como malária, rubéola, varíola e dengue, entre outras, sobre as funções cognitivas na humanidade, especialmente sobre a inteligência. Em especial, queria conhecer o impacto das mesmas nas habilidades cognitivas das crianças brasileiras mais vulneráveis e como as mesmas impactavam não só o desempenho escolástico, mas, também, o desenvolvimento econômico da nação, tal como refletido pelo PIB.

 

Envolvido, então, com a psicologia das pandemias, tive contato, em 2019, com o livro do Prof. Steven Taylor, intitulado A Psicologia das Pandemias: preparando para o próximo surto global de doença infecciosa, no qual o autor, de forma magistral, destacava a importância de se estudar fatores psicológicos e comportamentais que afetam diretamente a propagação de uma pandemia. Entretanto, nenhum de nós dois esperávamos que, no início de 2020, a Organização Mundial de Saúde viesse a declarar a Covid-19, causada pelo Novo Coronavírus, uma emergência em saúde mundial.

 

No final de março de 2020, após trocas de mensagens com o Prof. Steven Taylor, e baseando-me nas ideias do mesmo, ministrei cursos e palestras sobre o tema, destacando que, ao longo da história das pandemias, e sem exceção a qualquer delas, quatro métodos comportamentais são usados para manejar a propagação da infecção. São eles: 1º) comunicação de riscos, isto é, educação pública, em tempo real, dos verdadeiros riscos da doença e sobre como manejá-la o mais rapidamente possível e com disrupção mínima na sociedade; 2º) a consciência das mãos, incluindo as práticas higiênicas frequentes das mãos, do ambiente e dos objetos próximos que nos cercam; 3º) distanciamento social e outras práticas mais restritivas como fechamento das escolas, lockdown e outras; 4º) a importância do comportamento e da psicologia na aderência às vacinas e às terapias antivirais.

 

Nessas atividades, destaquei que a pandemia, por definição, é um evento traumático muito importante, que difere de traumas ocasionados por acidentes aéreos e ferroviários, assaltos, incêndios, etc por ser uma experiência coletiva mundial, motivo pelo qual requer precisamente a consciência de que todos, sem exceção, estão juntos em sofrê-la e em buscar formas de contenção da mesma. Por adição, pontuei, também, que a liderança, baseada na identidade social, tornar-se iria, talvez, o primeiro construto psicológico que poderia motivar, e persuadir, pessoas a contribuírem para o alcance das metas coletivas compartilhadas na luta contra o Coronavírus. Tratava-se, etão, de um problema do uso do “nós” em detrimento do uso do “eu”, “do outro”. e “dele”.

 

Como é do conhecimento de todos, da vivência de muitos, e como destacado na capa da revista Veja desta semana (“À beira de uma taque de nervos”), emergências de saúde pública, do porte da Covid-19, podem afetar a saúde, a segurança e o bem estar tanto de indivíduos quanto de comunidades. A pandemia podendo, por exemplo, provocar, do ponto de vista individual: insegurança, confusão, isolamento emocional e até estigmatizações diversas; do ponto de vista coletivo: perda econômica, desemprego, fechamento das escolas, sobrecarga do sistema de saúde e até falta de equipamentos protetores e de kits para entubações e afins, além de acirramento das desigualdades econômicas e sociais em países, como o Brasil, já terrivelmente desigual.

 

Esses efeitos podendo, então, serem traduzidos numa variada amplitude de reações emocionais, como, por exemplo, estresse e condições psiquiátricas diversas, bem como, comportamentos não saudáveis (do tipo abuso de álcool e de drogas ilícitas), além de não aderência às diretrizes de saúde pública (do tipo recusa de confinamentos tanto por parte dos que contraem a doença quanto da população em geral).

 

É certo que o impacto psicológico de uma pandemia do porte da Covid-19 será intenso, imenso e duradouro, maior que o já evidenciado em ambientes físico e hospitalar, motivo pelos quais acreditamos que a próxima década venha a ser dedicada à saúde mental.

 

Muitas outras sequelas psicológicas também poderão, por certo, emergirem tanto da própria Covid-19 quanto das estratégias utilizadas para mitigar sua propagação, tais como, medo, depressão, ansiedade, irritabilidade, agressividade, insônia, apatia, pânico e outras, associadas ou não ao lockdown.

 

Em suma, a pandemia da Covid-19 tem alarmantes implicações para a saúde individual e coletiva, bem como, para o funcionamento social, emocional e cognitivo. Urge que todos nós estejamos juntos para enfrentar esse novo desafio que já nos requer ações de combate.

 

Finalmente, quero agradecer à Comissão Organizadora, e a todos os palestrantes e participantes, pela concretização desse evento.

 

Muito obrigado a todos.

 

Prof. José Aparecido Da Silva

 

 

Ribeirão Preto, 30 de março de 2021

Segundo ano pandêmico da Covid-19


Evento enviado por Renê Abrão Achcar
Fonte: Prof. Dr. José Aparecido da Silva